Por Folhapress
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Dyogo, Gabriel, Henrico e, agora, Margareth. O Rio de Janeiro registrou a morte de mais uma jovem durante operação policial –a 15ª pessoa morta nessa situação desde sexta-feira (9). Margareth Teixeira, 17, ia para a igreja com o filho de um ano e dez meses no colo quando ambos foram atingidos. Os disparos vieram de uma operação da Polícia Militar na favela do Quarenta e Oito, em Bangu, na zona oeste carioca, para "coibir confrontos armados entre grupos rivais", segundo a corporação.
A estudante é pelo menos a quarta pessoa morta por tiros da polícia sem ter nada a ver com a operação em curso. Ela se soma a Dyogo Costa, 16, Gabriel Pereira Alves, 18, e Henrico de Menezes Júnior, 20, também mortos em comunidades fluminenses nos últimos cinco dias. Na ação que culminou na morte da adolescente, outros dois homens foram mortos. A PM afirma que eles reagiram à aproximação dos policiais e que foram socorridos ao hospital municipal Albert Schweitzer. Magareth recebeu dez tiros e chegou morta ao mesmo hospital, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. O bebê foi baleado de raspão no pé esquerdo e na cabeça e passou por uma cirurgia. Está estável e internado, acompanhado da avó paterna. Estudante do sétimo ano do ensino fundamental, Margareth era a caçula de uma família com nove irmãos. Sonhava em ser policial militar e ter uma casa própria, segundo a irmã, Mariana. "Ela tinha muito medo de morar lá [em Bangu]. Morava em Duque de Caxias e se mudou com 15 anos mais ou menos. Ela morava num ponto bem perigoso onde ficavam os bandidos, e por isso sempre tinha muito tiro lá", conta. "É uma irmã que não tenho nem palavras para descrever." O marido da jovem, Daniel Martins, soube da morte da esposa quando chegou à igreja e não a encontrou. A família só foi informada no dia seguinte. Horas antes da operação, a adolescente havia mandado fotos suas e do bebê para a irmã por mensagem. Questionada, a Polícia Civil não informou o nome nem a idade dos dois homens mortos na mesma ação. A PM disse apenas que apreendeu quatro armas, uma granada, 18 carregadores, dois rádios transmissores, um cinto de guarnição e munições. Afirmou também que o comando do batalhão vai apurar a dinâmica do caso, paralelamente à investigação da delegacia de homicídios. Na manhã desta quarta, um terceiro homem foi morto em outra ação da Polícia Militar, desta vez na comunidade da Mangueira, na zona norte do Rio, que amanheceu com um intenso tiroteio. Novamente segundo a corporação, criminosos atacaram agentes da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) local. A Polícia Civil diz que ele ainda não foi identificado e que investiga o caso. Com as mortes das últimas 24 horas, são ao menos 15 mortos durante ações policiais no estado desde sexta, contando os quatro adolescentes. As histórias dos jovens Gabriel, Dyogo e Henrico já haviam causado comoção e protestos em diferentes comunidades nos últimos dias. Gabriel foi baleado no peito enquanto esperava no ponto de ônibus para ir à aula, na sexta, próximo ao morro do Borel (zona norte). Já Dyogo foi atingido nas costas e socorrido pelo avô ao sair de casa para ir treinar futebol, na segunda, na comunidade da Grota, em Niterói (região metropolitana). E Henrico levou um tiro na cabeça também na segunda, na comunidade Terra Nova, em Magé (a 60 km da capital). A polícia diz que ele era suspeito e estava armado, mas a família afirma que ele era estoquista de um supermercado e estava indo buscar uma motocicleta no conserto. Governo Witzel lamenta O secretário de Governo de Wilson Witzel (PSC) disse nesta quarta que lamenta "essas e todas as outras que possam acontecer" e insistiu que não há "política de enfrentamento" no RJ. "Não há um enfrentamento da forma como estão colocando. Nós estamos combatendo narcoterroristas e máfias", afirmou Cleiton Rodrigues à TV Globo. "Não há intenção da Polícia Militar em matar inocentes. As investigações serão feitas, e os culpados serão punidos. E, eu não tenho dúvidas, os culpados são os narcoterroristas", completou, afirmando que o governador já pediu à secretaria de vitimização que contate as famílias das vítimas. O porta-voz da PM, coronel Mauro Fliess, disse também que "não existe fracasso [nas operações]". "Agora, é importante frisar: não podemos admitir nenhum tipo de pré-julgamento. Todas essas ações são apuradas, não só pela Corregedoria da PM, mas também pela delegacia de homicídios." O número de óbitos por policiais vem subindo há cinco anos no RJ e bateu novo recorde neste primeiro semestre: 881, contra 769 nos seis primeiros meses do ano passado, uma alta de 15%. No mesmo período de 2019, sete policiais militares morreram em serviço. Em nota, a OAB-RJ manifestou "profunda preocupação com a política de segurança pública executada pelo governo do estado" e disse estudas medidas para lidar com problema, além de oferecer auxílio jurídico às famílias dos jovens assassinados.